“O sonho de ter um vinhedo e produzir vinhos começou a se tornar realidade em fevereiro de 2010. Depois de ouvir do amigo Emerson detalhes sobre o empreendimento que ele havia conhecido, resolvemos conhecê-lo também, pessoalmente. Programamos uma viagem a Mendoza e para lá viajamos.
Fomos muito bem recebidos na “finca”, localizada no Valle de Uco, pelo Pablo e Mike, os principais executivos da The Vines of Mendoza, e Mariana, responsável pela produção dos vinhos. Não havia como não gostar do projeto. Sentados à beira de um pequeno lago, de frente para vinhedos já plantados e ao fundo a belíssima Cordilheira dos Andes, estávamos bebendo um excelente espumante argentino e comendo alguns tira-gostos. Começamos então a ouvir deles como o nosso sonho poderia tornar-se, de fato, realidade. Foi uma semana maravilhosa.
Para comemorar aquela viagem decidimos voltar para o Brasil com uma escala em Santiago para almoçar num restaurante que gostávamos muito, o Donde Augusto, no Mercado Central. Fomos e almoçamos uma centolla deliciosa, harmonizada com um branco chileno.
Viajaríamos no dia seguinte.
Aí veio a surpresa. À noite, no hotel, fomos acordados por uma sensação terrível, um susto gigantesco. Estávamos em Santiago naquele terremoto terrível de 2010. Felizmente não tivemos problemas físicos mas passamos alguns dias muito tensos, com tremores diários e sem poder voltar para o Brasil, pois o aeroporto estava fechado. Junto com outros brasileiros que conhecemos naqueles dias tomamos uma decisão. Saímos de Santiago de ônibus, para Porto Alegre. Foram 27 horas difíceis, mas não tínhamos mais como suportar os tremores diários das réplicas, algumas chamadas por eles de “temblores”. Para nós, terremotos mesmo.
Cruzamos a Cordilheira, passamos de novo por Mendoza, enfrentamos um vendaval fortíssimo (mais tarde soubemos que se tratava do “vento Zonda”), mas chegamos aliviados no Brasil.
Passamos alguns meses pensando se realmente iríamos adquirir o vinhedo e tornar o sonho realidade. A lembrança do terremoto era muito forte e pensávamos que poderia acontecer por lá também.
Depois de muito pensar e protelar a decisão, finalmente resolvemos investir no sonho. Compramos o vinhedo, plantamos Malbec e Syrah e não estamos arrependidos.
É muito especial acompanhar as fases da evolução do vinhedo, participar das colheitas, selecionar as uvas, fazer “pisoneios”, degustar, decidir o estilo do vinho e aprender com pessoas que vivem e conhecem do assunto. E, mais especial ainda, é ver toda a família envolvida em torno do resumo de nossa história: “Uma garrafa de nosso próprio vinho.”